Matriz SWOT (FOFA) para OSCs: entenda onde você está e para onde ir
No corre do dia a dia, é comum que organizações da sociedade civil foquem tanto na execução das atividades que acabam deixando a estratégia em segundo plano. Mas como crescer com propósito sem entender, de fato, onde estamos, o que temos a nosso favor, o que pode nos atrapalhar e o que está por vir?
É aqui que entra a Matriz SWOT, ou FOFA, na versão em português (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças) uma ferramenta simples e potente para mapear o cenário interno e externo da sua organização. Usada por empresas no mundo todo, ela também é imprescindível para organizações sociais, coletivos, iniciativas de base e negócios de impacto social.
Ao longo deste artigo, vamos mostrar como aplicar essa análise no seu contexto, com uma linguagem descomplicada e voltada para quem trabalha com transformação social. Sem jargão corporativo e com muito pé no chão.
Nosso objetivo é te ajudar a tomar decisões mais estratégicas, priorizar ações com base em evidências e aproveitar ao máximo os recursos (que sabemos que nunca são infinitos no terceiro setor).
Bora começar?
O que é a Matriz FOFA (e o que ela tem a ver com a sua organização)
A Matriz FOFA é uma ferramenta de análise estratégica que permite enxergar com mais clareza onde sua organização se destaca, onde pode melhorar, o que está ao seu redor e o que pode impactá-la.
Simples de aplicar, essa matriz ajuda a construir uma espécie de “raio-X organizacional” com base em duas dimensões:
- Ambiente interno: o que está sob seu controle (as forças e fraquezas)
- Ambiente externo: o que vem de fora e você não controla diretamente (as oportunidades e ameaças)
A mágica está em organizar essas informações de forma visual e reflexiva, para transformar o diagnóstico em decisão estratégica.
Importante: essa análise não é sobre “certo ou errado”. É sobre realidades. Por isso, honestidade e escuta ativa são ingredientes fundamentais no processo.
Um exemplo para visualizar na prática:
Imagina uma ONG que promove acesso à cultura em periferias urbanas, com foco em juventudes e educação.
Durante a análise FOFA, a equipe identificou:
| FORÇAS | OPORTUNIDADES |
|---|---|
| Forte conexão com a comunidade | Editais públicos de incentivo à cultura |
| Rede sólida de voluntários locais | Interesse crescente por educação antirracista |
| Histórico de resultados concretos | Parcerias com coletivos culturais independentes |
| FRAQUEZAS | AMEAÇAS |
|---|---|
| Baixo investimento em comunicação | Redução no repasse de recursos públicos |
| Pouca presença digital estruturada | Estigma social sobre periferias |
| Alta rotatividade da equipe técnica | Concorrência com grandes institutos |
A partir dessa análise, a organização consegue traçar ações estratégicas como: fortalecer sua comunicação institucional (com apoio de voluntários), ampliar parcerias com coletivos e buscar financiamento em editais temáticos que estejam alinhados com sua força: o impacto territorial.
E por que a MATRIZ FOFA é tão útil para organizações sociais?
Diferente de empresas com fins lucrativos, as OSCs lidam com recursos limitados, metas de impacto e causas complexas e urgentes. Nesse sentido, tomar decisões com base em dados e reflexões consistentes é um diferencial estratégico.
A FOFA ajuda sua organização a:
- Mapear seus diferenciais (não apenas percebidos)
- Alinhar a equipe sobre desafios e possibilidades
- Criar planos de ação mais realistas e focados
- Ter um panorama atualizado para pensar captação, comunicação e articulação política.
E mais: ela é democrática. Pode (e deve!) ser construída em conjunto com diferentes pessoas da organização, da equipe técnica à liderança, passando por voluntárias, conselheiras e até doadoras.
Como aplicar a Matriz FOFA no seu contexto (sem complicação)
Uma das maiores vantagens da matriz FOFA é a simplicidade. Mas atenção: simples não é o mesmo que raso. Uma análise bem feita exige escuta, diversidade de olhares e abertura para encarar verdades, mesmo quando elas doem um pouco.
Abaixo, te mostramos como conduzir o processo de forma prática, colaborativa e ajustada à realidade de organizações da sociedade civil.
1. Escolha o momento certo
A FOFA pode ser aplicada em vários momentos estratégicos:
- No início de um ciclo de planejamento anual ou bianual
- Antes de lançar uma nova campanha, projeto ou frente de atuação
- Após mudanças estruturais (como troca de liderança ou fusão de áreas)
- Quando os desafios estão se acumulando e é hora de olhar para o todo
O importante é que a equipe esteja disponível para refletir e construir em conjunto.
2. Forme um grupo diverso
Convide pessoas de diferentes áreas da organização. Uma FOFA feita só pela diretoria corre o risco de perder nuances importantes.
Inclua:
- Quem atua na ponta (projetos, serviços, atendimento)
- Quem cuida da gestão (comunicação, captação, administrativo)
- Se possível, traga aliadas externas: voluntárias, conselheiras, apoiadoras
Diversidade de experiências = riqueza de leitura estratégica.
3. Facilite um momento coletivo (e seguro)
Reserve de 2 a 3 horas para a construção conjunta. Pode ser presencial ou virtual. Use post-its físicos ou digitais (como Jamboard, Miro ou mural no Google Slides).
Dicas para facilitar:
- Apresente o conceito da FOFA de forma leve
- Dê exemplos práticos de cada quadrante
- Crie um ambiente seguro, sem julgamento
- Estimule a escuta e o respeito às diferentes visões
- Reforce que tudo o que surgir será insumo estratégico, nada será “descartado”
-
4. Preencha os quadrantes em grupo
Sugira que o grupo preencha inicialmente de forma individual, depois compartilhe com a equipe. Isso evita que as primeiras falas contaminem os demais olhares.
| FORÇAS (interno e positivo) | OPORTUNIDADES (externo e positivo) |
|---|---|
| O que fazemos bem? | Quais mudanças externas podem nos beneficiar? |
| Do que temos orgulho? | Há novos editais, parcerias ou tendências favoráveis? |
| No que nos destacamos em relação a outras organizações? | Como o cenário atual pode impulsionar nossa atuação? |
| FRAQUEZAS (interno e positivo) | AMEAÇAS (externo e positivo) |
|---|---|
| Onde sentimos que falhamos ou deixamos a desejar? | Quais fatores externos nos colocam em risco? |
| Quais recursos nos faltam? | Há cortes de verba, mudanças políticas ou concorrência acirrada? |
| Quais processos são ineficientes? | Que tendências ou crises podem nos afetar? |
5. Organize e priorize os aprendizados
Depois do mapeamento coletivo:
- Agrupe os pontos semelhantes
- Nomeie cada grupo com clareza
- Identifique os
pontos mais críticos e os mais promissores
Esse é o momento em que a análise ganha potência estratégica. Para facilitar essa etapa, a Nossa Causa criou uma planilha prática e gratuita que pode ajudar sua equipe a organizar os quadrantes, cruzar os dados e transformar os aprendizados em ações.
Como a FOFA ajuda a sair de percepções genéricas e criar ações concretas
Em muitas organizações, é comum ouvir frases como “precisamos melhorar nossa comunicação” ou “não temos equipe suficiente”. Embora verdadeiras, essas percepções costumam ser genéricas demais para orientar decisões estratégicas. A Matriz FOFA ajuda a dar nome, forma e prioridade a essas sensações difusas, transformando intuições em informações úteis para a ação.
Ao organizar o que a organização faz bem, onde estão seus desafios, que oportunidades podem ser aproveitadas e quais riscos precisam ser monitorados, a FOFA permite sair do campo das suposições e avançar para um território mais claro, coletivo e intencional. O processo de escuta e análise compartilhada favorece o surgimento de consensos e revela pontos que muitas vezes passam despercebidos, como barreiras estruturais, silêncios institucionais ou mesmo forças que a equipe não reconhecia como diferenciais.
A FOFA não é apenas um material de diagnóstico, ela funciona como uma ponte entre o que se sente e o que se pode fazer. É um convite à organização para parar, olhar para dentro e para fora, e se movimentar com mais consciência e direção.
Transformando a Matriz FOFA em uma prática viva e não só uma atividade pontual
A maioria das organizações aplica a Matriz FOFA uma vez, geralmente em momentos de crise ou virada, e depois deixa o diagnóstico esquecido em alguma pasta do Drive.
Mas a verdadeira potência está no seu uso contínuo e adaptável.
Incorporar a FOFA como parte da cultura de gestão é uma forma de manter a organização sempre atenta ao seu contexto, atualizada sobre suas capacidades e mais preparada para responder a mudanças internas e externas.
Hábitos para não esquecer e manter a Matriz presente no dia a dia:
- Revisite a matriz a cada seis meses: atualize o que mudou, descarte o que perdeu relevância e identifique o que avançou
- Integre ao planejamento anual: use a FOFA como ponto de partida para definir metas, ações de comunicação e captação
- Leve para diferentes áreas: faça microanálises FOFA por projeto, equipe ou tema. Isso gera autonomia e visão estratégica em todos os níveis
- Inclua novas vozes no processo: traga conselheiras, voluntárias, doadoras e até beneficiárias para enriquecer o olhar coletivo
A FOFA é uma escuta, análise e decisão compartilhada. Essa abordagem, por si só, já transforma a maneira como as organizações operam, planejam e se posicionam no mundo.
Que essa ferramenta não seja usada apenas em momentos pontuais, mas se torne uma aliada contínua para manter sua organização conectada com seu propósito e atenta ao seu contexto.
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